segunda-feira, 16 de maio de 2011

Doutora em Ciências Humanas explica o conceito de trabalho

Professora Lia Tiriba, à esquerda, e professora Sonia Rummert durante a conferência sobre "Educação para que trabalho"



 
“O erro é pensar que trabalho é sinônimo de emprego”. Essa frase foi dita pela professora Sonia Rummert, no último sábado (14), durante a quinta conferência. Rummert, que é doutora em Ciências Humanas pela PUC-Rio, foi quem culminou com a expressão “educação de jovens e adultos trabalhadores”, que é comumente usada, hoje, no âmbito da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Baseada no tema da conferência: “Educação para que trabalho?”, Rummert destaca a importância de saber o significado do conceito de trabalho.

Diante de uma classe formada por jovens e adultos, os professores da EJA tendem a não reconhecer os alunos que não estão inseridos no mercado de trabalho formal ou informal como trabalhadores. Rummert explica que isso ocorre porque os docentes não levam em conta o conceito de trabalho na perspectiva ontológica: “O trabalho é a forma como o homem produz sua existência. Por isso, a dona de casa é sim uma trabalhadora, uma vez que ela produz sua existência e mantém a relação familiar”, destacou.

Professora da EJA há dois anos, Maíra do Vale já deixou de reconhecer alguns alunos como trabalhadores por não levar em conta o conceito de trabalho na perspectiva ontológica. “Eu mesmo já cometi o erro de falar que uma turma tinha muito aluno que não trabalhava e esqueci de que eles podiam não estar trabalhando, mas eram filhos da classe trabalhadora. Nós professores, às vezes, nos esquecemos de considerar isso”, disse. Para Maíra, até mesmo os próprios alunos que não estão inseridos no mercado de trabalho não se reconhecem como trabalhadores. “O Aluno que ajuda a família não se considera trabalhador, mas ele é trabalhador, porque está atuando no processo de produção da vida dele e dos seus parentes”.

A EJA, no Brasil e em outros países da América e da Europa, é destinada à educação da classe trabalhadora. Não há EJA, completa Rummert, voltada para filhos da classe média ou classe média alta, “porque esses frequentam a escola na idade correta, prevista para cada série”, explica.

Usando o conceito de Antonio Gramsci de que a educação da classe trabalhadora segue o trem que tem uma estação marcada para parar, Rummert fala que a EJA, às vezes, educa o trabalhador já delimitando até aonde ele pode chegar, favorecendo para que o trabalhador continue dependente do sistema capitalista: “O trabalho no capitalismo é ancorado na heteronomia, cria uma falsa emancipação”. Os professores têm um papel fundamental, para Rummert, de ajudar os alunos na emancipação humana, que busca a autonomia, diferente do que é defendido pelo capitalismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário